18 de novembro de 2010

CASINHA DOS SONHOS

Há momentos da infãncia, que jamais esqueceremos. Fatos que nos envolvem tanto que ao trazê-los de volta em nossa mente, revivemos como se estivéssemos, na realidade, no dia e na hora em que tudo se passou.
Minha irmã Lúcia, a Coca, nossa vizinha, e eu, éramos muito unidas. Apesar de algumas cenas de ciúmes provocadas por mim, como por exemplo, "Lúcia, casadinha com a Coca", continuávamos amigas. Era a casa de meus pais, onde costumávamos brincar no nosso quarto. Uma casinha tão bem montada que ali permanecia intacta até a próxima brincadeira.
Levávamos horas, misturando nossa vida de meninas com as lindas bonecas. Éramos pequenas, cheias de imaginação e, nas tardes de sol, abandonávamos a rua e os passeios para dividir nossas fantasias com os brinquedos. Ouvíamos os ruídos dos passos pela casa, as conversas com as  vizinhas que iam e vinham. Transformávamos tudo em realidade na nossa casinha dos sonhos, tão bem montada preparada por nós três.
Sinto até hoje a sensação gostosa de tocar nos cabelos lisos e macios da minha boneca preferida. E o meu fogãozinho verde, que dividia com minhas companheiras, ah...sinto até hoje o gosto da comidinha feita na imaginação.
Brincávamos tanto, viajávamos por lugares nunca vistos e nos perdíamos das horas. Ouvíamos ao longe a minha mãe nos chamar:
- Venham tomar café! Tá na hora da missa.
Que café, que nada. Missa, só se levássemos juntas as nossas bonecas. Misturávamos o real e o imaginário, o cheiro do café, a hora da missa. Ficávamos ali, encantadas, numa parceria sem fim até sentirmos que a noite chegava e teríamos que nos afastar. Dormíamos felizes, mas sempre com o pensamento nas nossas fantasias. Com a noite, vinha o desejo e a promessa de outro dia de brincadeiras, mais um dia de "faz de conta", que deixariam marcas profundas. Era a casinha dos meus sonhos.

Autora: Nara Freitas.

Um comentário:

Tania Velázquez disse...

Tão bom e necessário, brincar de casinha de bonecas, não é?
É ali que as crianças vão aprendendo a separar os deveres impostos e as suas vontades próprias. Depois, com o tempo, a vida fica mais complicada de digerir e é aí que entra o aprendizado da casinha do sonhos para a casa da realidade.