31 de maio de 2011

DIREÇÃO OPOSTA



Teimo em me procurar
na direção oposta
como um veículo
que sempre dirige na contramão.
Não estou em você
e sei, não estás em mim.
E essa luz que vem de frente
ofusca- me e cega-me.

Por que teimo em me procurar
na direção oposta?
se o que vem, asfixia
e o que preenche, esvazia.
É como recitar um poema
sem um sonho colorido.

Nara Freitas

30 de maio de 2011

PRECISO DA CHAVE

Não quero arrombar a porta
preciso da chave.
Estamos cortados
o tempo expirou em mim.

Não estamos mais um no outro
e, se eu for um ser sem vida
não terei mais o brilho no olhar.

Será que mesmo assim, continuarás a me amar?

Preciso da chave
expirou o tempo em mim
e a porta não quero arrombar.

Nara Freitas

28 de maio de 2011

REACENDE EM MIM

Empresto
meu sorriso rosa
meu carinho branco
e o pensar azul.

Entrego
a paixão dourada
a alma camuflada
e a fita de cetim.

Tua indiferença
inescrupulosa
faz com que eu perca
a significação e o fascínio.
Como um pedaço de madeira
que já parecia apagado,
mas volta a arder ao toque leve do vento.

Reacende em mim.

Nara Freitas

27 de maio de 2011

PALAVRAS

Há palavras que percorrem o mundo todo porque nunca foram ditas, como bilhetes sufocados nas garrafas em pleno rio. Viajam a nenhum caminho e pulsam a ausência de alguém.
Palavras que deixam incógnitas no brilho imortal das estrelas e lágrimas no arco-íris porque vão lentamente dançando e carregando conflitos de uma alma para a outra contaminadas de amor.
E, passando por trevas noturnas e fantasmagóricas, há ainda a esperança da existência dourada do sol. Certamente, no outro lado do rio alguém as espera.

Autora: Nara Freitas

AMARGO



Minha alma descarrega
o amargo do açúcar
que deixaste em mim.
Como a fuga de uma ilha
pegando carona do sol
para renascer novamente.

Nara Freitas

ENCANTO



As estrelas combinadas
conversam entre si
e alegram o céu.
É que elas perceberam
que faltou o brilho da lua
e esse encanto
veio alojar-se em mim.

Nara Freitas

24 de maio de 2011

ACONTECEU COMIGO

Nunca vi tanta injustiça como no dia em que me deparei com a figura daquela pessoa idosa quando adentrei em sua casa. Olhava-me com seus olhos marejados de lágrimas como se pedisse socorro.
Eu, sem nenhuma ação, esperava que me dissesse o motivo de tantas marcas no seu rosto e mãos ainda sangrentas já calejadas pelo tempo.
Para quebrar o silêncio, sentei-me e comecei a balançar a cadeira que ele tanto gosta e, até hoje pergunto-me: Propósito?
O barulho quebrava o silêncio entre nós dois. Repetitivo, irritante.
Foram-se passando os segundos, os minutos, até que criei coragem. Para mim a pergunta era difícil, pois nosso convívio diário sempre foi distante. Até que falei:
-O que houve? Quem fez isso?
A resposta custou a vir. Parece que antes de chegar à sala, andou pelos quartos e demais peças da casa, confundindo-se com o barulho da cadeira de balanço.
-Agrediram-me, quebraram meus óculos e machucaram minhas costas.
Já sabia quem era o autor de tudo isso. O covarde morava na esquina e sentia-se o dono da rua.
Levantei-me e contemplei mais uma vez a figura daquela pessoa injustiçada. Até hoje sinto o calor do abraço que não dei, porém foi o que me impulsionou a fazer justiça com as próprias mãos.

Autora: Nara Freitas

"Redação e Leitura de Memórias" com Luis Augusto Fischer. Oficina Literária- Feira do Livro- Caçapava do Sul. 24/05/2011.

GOSTO DE TI ASSIM


Gosto de ti assim
aos poucos, sem pressa.
Sentir a tua pele na minha
nua
bem crua.
e, aos poucos,
vou devorando-te lentamente.

Nara Freitas

DESTEMPERO

Sua presença trazia ausência


destemperava meu coração


e eu, rude poeta,


esquecida até da métrica


modesta, sem inspiração,


deixava esvair-se o sonho


de um só verso, um só refrão.





Emprestava a lira à alma


deslizava os dedos na viola


e o som não vinha até a mim.





Agora minha luz é imortal


derrama pétalas de cristal.


O pulsar da nova vida


não teme o medo da escuridão.


E quando preciso canto


os versos do coração.





Autora: Nara Freitas

TROCA



Lá vem o sol
tecendo um pano
de cor dourada
...no meio da escuridão.
Lá vou eu
abro a janela
e dou de presente
meu coração.

Autora: Nara Freitas

SEM RESPOSTA



Que lua é essa
que insiste em clarear o rio?

...Que rio é esse
que insiste em lavar minha alma?

Que alma é essa
que insiste nos teus longos beijos?

Que beijo é esse
que se acomoda de cheio dentro de mim?

Não sei, prefiro continuar assim.
Sem resposta.

Autora: Nara Freitas

AMOR CERTEIRO


As ondas
certeiras
vêm
e morrem
lentamente
...na
beira
da
praia.

O meu amor é o contrário,
parte sereno, tranquilo
e cheio de ternurinhas.
De repente, explode de cheio no teu coração.

Autora: Nara Freitas

18 de maio de 2011

DESABAFO

Aquela pedra marcante,
robusta,
poderosa,
intrigante...
não suportou o estrondo de um pequeno trovão.
Desabou
feito criança
quando perde a esperança
com o peso de um não.

Pudera, eu entendo,
sofreu igual ao meu coração.

Autora: Nara Freitas

11 de maio de 2011

REALIDADE

O amor real jamais vai embora
fica de galho em galho
dançando como um espantalho
de um coração para o outro.

Nara Freitas

EXPLODE DE CHEIO

As ondas
certeiras
vêm
e morrem
lentamente
na
beira
da
praia.

O meu amor é o contrário,
parte sereno, tranquilo
e cheio de ternurinhas.
De repente, explode de cheio no teu coração.

Autora: Nara Freitas

6 de maio de 2011

PERDI O FIO DA MEADA



TENHO UMA INCONTROLÁVEL
VONTADE DE ESCREVER.
RABISCO, RESPIRO PALAVRAS,
SOU MESMO OSSO DURO DE ROER.

O FIO QUE AS TRAZEM ATÉ A MIM
PUXA-AS SEM MESMO EU PERCEBER
PESCA ALÍVIO E DESEJO
SOBE FIRME E SEM PESO
E EU MERGULHO, SOU ASSIM.

DE MANHÃZINHA ENQUANTO O SOL SE AJEITA
CONFUNDO AS PALAVRAS COM A NÉVOA
BRANCA, PURA COM REFLEXO
VÊM COM DENGO E SEM NEXO.
PREGUIÇOSAS...
QUEREM ROMANCE COM AS ROSAS.

À TARDINHA...AH, À TARDINHA
O FIO AS TRAZEM COMO O PRIMEIRO BEIJO DADO
MEIO DOIDO, DESAJEITADO
MOVIMENTO LENTO E ACELERADO.

AS PALAVRAS SÃO PENETRANTES
QUENTES
ARDENTES
E A MEMÓRIA REGISTRA OS MÍNIMOS DETALHES
QUE O PÔR-DO-SOL ENVIA.
FICO ALIENADA...

DESCULPE-ME EU ME DISTRAI
ACABEI PERDENDO O FIO DA MEADA.


NARA FREITAS

3 de maio de 2011

FILHA DA MÃE



SOU FILHA DA MÃE. AQUELA MÃE QUE FOI CRIADA PARA DEIXAR OS FILHOS MAIS SEGUROS, MELHORAR SUAS CONSISTÊNCIAS E AUMENTAR SEUS PRAZOS DE VALIDADES. A MESMA MÃE QUE TROCA DE TIME, DE CAMISETA , AINDA ESTALA PIPOCAS PARA ALEGRAR O FILHO QUANDO O TIME PERDE E VIRA ENCICLOPÉDIA DE ASSUNTOS FUTEBOLÍSTICOS MESMO SEM IMAGINAR ONDE FICA A MARCA DE PÊNALTI NO CAMPO DE FUTEBOL. A QUE DISCUTE E DERRAMA "PALAVREADOS" CHATOS E, MESMO ASSIM, LAVA O TÊNIS DO FILHO COM LAMA FORMADA PELA CHUVA. ENFRENTA TUDO A FAVOR DELES QUANDO OS FILHOS DEMONSTRAM SUAS RAZÕES, DESDE AULAS PARTICULARES COM TIGRES ATÉ A DOMA DE LEÕES. VIRA UMA INSTITUIÇÃO QUE EMPRESTA DINHEIRO AO FILHO, MESMO ELE APRESENTANDO PROVAS DE QUE NÃO PRECISA DE DINHEIRO. SE PROPÕE EM APRESENTAR UM TRABALHO E FALA EM DOUTORADO, PORÉM PRECISA PROPORCIONAR RECURSOS PARA QUE ELE FIQUE GRADUADO. A MÃE QUE NÃO PREGA O OLHO QUANDO O FILHO ADOECE, DÁ REMÉDIO E AINDA ENGOLE AS BULAS. A QUE RECLAMA DO CÃO DO VIZINHO MESMO ACHANDO QUE O CACHORRINHO DO FILHO É MAIS IMPERTINENTE. AQUELA QUE NÃO ESQUECE DA ORAÇÃO DA NOITE ATÉ A ALVORADA E PEDE POR TODOS, INCLUINDO A EMPREGADA. A MÃE QUE VIRA POLIGLOTA, PRESSIONA O FILHO E EXIGE A NOTA. FICA ESPECIALIZADA EM ASSUNTOS DAS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES, SERES VIVOS, CONTINENTES, GRAMÁTICA E EXPRESSÕES. A QUE DEFENDE OS FILHOS MENORES DE BICHOS PEÇONHENTOS MESMO MORRENDO DE MEDO E ACHANDO-OS NOJENTOS. AQUELA MÃE QUE NUNCA CONCORDA COM O PROVÉRBIO: "PAU QUE NASCE TORTO MORRE TORTO,"POIS SEMPRE PENSA QUE VAI ENDIREITÁ-LO. A QUE USA O VERBO NO IMPERATIVO NEGATIVO, EMBORA O CORAÇÃO FALE AO CONTRÁRIO. TAMBÉM SOU FILHA DA MÃE...DA MESMA MÃE QUE ENSINOU-ME A SER MÃE E A FAZER PIRUETAS PARA CRIAR MEUS PRÓPRIOS FILHOS. MÃE, QUE HOJE REPARO NA FACE O CANSAÇO E QUE DE MIM JÁ DEPENDE BEM MAIS DO QUE EU. A MÃE QUE TRAZ EM CADA RUGA A MARCA REGISTRADA DE AMOR E DOAÇÃO.
SOU FILHA DA MÃE...COM ORGULHO DE MÃE.

AUTORA: NARA FREITAS.