14 de dezembro de 2010

MEUS SAPATOS BRANCOS
Dias viravam semanas, semanas viravam meses e meses viravam anos até que ele aparecia: Papai Noel!
Eu estava sempre lá, sentada no sofá na vasta varanda da sala de meus pais. Vestido rosa com detalhes de fitas brancas, cabelos cacheados tão bem feitos pela minha avó e os sapatos brancos que os visualizava com os pés cruzados para frente e para atrás, afinal eram sempre novos para essa tão marcante data.Adorava ver os olhos de todos fixando-os, imaginava até que deles saiam rastros de uma brilhante luz, cheia de estrelinhas que piscavam.
Olhava para a árvore de Natal tão grande ao lado da lareira, nela havia várias cartinhas penduradas de pedidos e promessas de melhores comportamentos para o ano seguinte, normal para os meus 7 ou 8 anos, também,havia nela, várias caixas muito bem colocadas e, pelos pedidos feitos, logo imaginava qual seria a minha com o meu tão sonhado presente. Ficava a pensar...como pode Papai Noel ler todas as cartas das crianças? Deve ter um problema horrível nos olhos, por isso, muitos deles usam aquelas máscaras feias para esconder as olheiras.
Às vezes, curvava-me encostando meus lindos cachos no chão e espiava para dentro da lareira, meu pai sempre dizia que o bom velhinho vinha por ali.
Confesso que sentia um amor eterno por ele, mas que acabava logo que o via. Figura estranha e um tanto desengonçada. A barba mais parecia um escorregador de neve, deveria ser para as crianças apoiarem-se e ali, descobrirem seus sonhos. Ah! Se dependesse disso, nunca encontraria os meus.
Tinha um enorme desejo de estar perto, tão perto dele, como duas encantadas criaturas, porém afastava-me e ele estendendo sua mão branca feito algodão, chamava-me insistentemente. Nunca cheguei a abraçá-lo,nem tampouco tocá-lo, ficava uma distância entre nós no momento em que ele estava mais presente. Hoje, arrependo-me como todo o adulto arrepende-se de um carinho não demonstrado na hora e momento certo. Papai, meu papai, Noel, queria-o juntinho a mim, talvez para beijar seu rosto ou para sentir aqueles fios tão bem cuidados da barba que tornou-se rala nos meus dedos.
Agora, no vaivém da vida, olho meus pés descruzados, sapatos sem cores já meio estragados, não faço mais questão que percebam em mim. Meus sapatos estão sem brilho. Cresci, abandonei o Natal ou aquela esperança radiante se apagou dentro de mim? É, gente grande é mesmo assim.

Autora: Nara Freitas.

Um comentário:

Julio Silva disse...

Colocar os sentimentos para um texto é sempre saudável. Tens uma escrita fácil e acessível. Parabéns pelo texto.